sábado, 7 de abril de 2012

Quem cala consente. Eu não me calo

Na semana passada o que era para ser uma simples brincadeira entres universitárixs virou uma polêmica nacional. No trote da Universidade Federal do Paraná, foram distribuídos Manuais de Sobrevivência para xs calouros que diziam que as garotas têm a obrigação de dar*.
Baseados no Código Civil e até na Constituição Federal, são dados argumentos para que os garotos que defendem, por exemplo, que A garota foi com você ao quarto, prometendo mundos e fundos (principalmente fundos), mas o máximo que você conseguiu foi um beijo: Código Civil, art.233- obrigação de dar: 'A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados (...)'” ou que se “Ela prometeu e não cumpriu. Disse ‘vamos com calma’: Art. 252, §1º do Código Civil: ‘não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra’. Ela vai ter que dar tudo de uma vez.” Xs responsáveis pelo material soltaram uma nota dizendo que era tudo piada, que “Manual de Sobrevivência do Calouro, distribuído pelo Partido Democrático Universitário, que nada visava além de propiciar algumas risadas em nossos novos colegas, com brincadeiras a respeito da vida na universidade”.
Então, vou partir daí minha breve análise: É muito comum quando há demonstrações de preconceito (neste caso é uma expressão de uma opressão, o machismo), os agentes da opressão se retratam, falando que se trata de piada. Gostaria, então, de levantar uma questão: quantas piadas vocês, leitorxs, conhecem em que o alvo da chacota é um homem, branco, cristão e heterossexual (sendo eu paulista, incluiria aqui também, este mesmo adjetivo)?
O nosso riso diz muito sobre os nossos preconceitos. Preconceitos, que etimologicamente, significam pré-conceitos, ou seja, ignorância (no sentido de desconhecer, mas também por vezes também não querer saber) sobre determinado assunto. Piadas que são baseadas em estereótipos apenas reforçam determinados preconceitos da nossa sociedade.
Voltando ao manual, que pretendia-se uma piada, ele é um manual machista, sim, na medida em que, o alvo de suas piadas são as mulheres. Machismo é uma opressão que se dá no âmbito das relações entre os gêneros, na qual, a partir de diferenças biológicas, criam-se desigualdades sociais. Essas desigualdades ficam explícitas em piadas como essa do manual, que acha graça no fato de uma mulher recusar-se a fazer sexo com um homem.
Os comerciais, por exemplo, para vender seus produtos são preenchidos de mulheres-produtos perfeitas (magras, porém com curvas; cabelos sedosos; pele bonita; e aparência bem “feminina”) e semi-nuas, e parecem estar sempre prontas e dispostas a fazer sexo. Mas aí, acontece que na vida real as mulheres (e aí pense numa diversidade delas; pois não somos iguais, nem física, nem psicologicamente), ao contrário do que é exposto 24h por dia nas TVs, nos rádios, nas revistas e nas páginas da internet, não são máquinas de dar prazer e não tem obrigação de dar nada para ninguém.
E isso é frustrante para alguns homens, consumidores na nossa sociedade machista e masturbatória, que, então, se vêem no direito de cobrar aquilo que as mulheres têm a obrigação de oferecer. Não é por um descontrole emocional ou acidente que eles acabam agredindo sentindo no direito de agredir mulheres ou, no limite, estuprá-las, porque eles encontram respaldo na educação que tivemos (e continuamos tento) para fazer isso.
Infelizmente, não seria uma surpresa para mim se acontecesse numa dessas festas universitárias durante o trote (um período conhecido por seus excessos, que geram até mortes) um caso de agressão como este, por exemplo: http://www.youtube.com/watch?v=bepoIMi_sIw . Ou então que se surgisse um relato de sexo não-consensual, também conhecido como estupro, para aqueles que têm medo de dizer o que de fato é.
Mas também não é menos revoltante saber que, apesar dos avanços no debate da violência contra a mulher (marcado pela criação da lei Maria da Penha, mesmo com todas as suas limitações), ela continua acontecendo em todos os cantos do país. No Brasil, as estatísticas de assassinato feminino estão acima do padrão internacional: “Em dez anos, dez mulheres foram assassinadas por dia no Brasil”**. Então, é sério quando “essas feministas”, dizem que o machismo mata.
“Quem cala consente. Eu não me calo.” Sou chata e continuarei denunciando e combatendo o machismo.

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