quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Não temos só bananas, temos movimentos feministas também!



Típicas feministas aborígenes do Brasil, Loucas de Pedra Lilás. 

O Femen desembarcou no Brasil com ares de colonização, trazendo uma 'novidade' as/aos nativxs,  o neofeminismo. (Que neofeminismo? Se de neo não tem nada).

PEITOS! PEITOS! A mídia (machista e burguesa) se deleita, apontando o feminismo 'inédito' no país e uma líder (sim, líder) bela, com pouco conhecimento de causa e muitas contradições ideológicas, mas bela.

Falaremos um pouco sobre as origens do grupo ucraniano Femen e sua recente ramificação, Femen Brazil. Com o alvoroço, a blogosfera feminista brasileira veio e disse, em coro:

Femen: nos representa?
Lutamos por um feminismo livre e horizontal, sem seleção ou recrutamento! 
Por um feminismo de diversidade étnica, antiracista, antihomofobia e anticissexista!


Femen e suas origens

A indignação do Femen teve sua origem no turismo sexual. A Ucrânia é uma fonte de mulheres para o mercado do sexo e esse grande negócio além de exportar prostitutas, importa clientes de garotas de programa. Com a crise européia, a moeda desvalorizada e o fácil acesso ao visto, esse problema se acentuou transformando o país em um paraíso para o turismo sexual. O mercado financeiro pode até ir mal, mas sexo nunca pode faltar, não é mesmo? E assim, através da iniciativa de uma estudante, Anna Hutsol, nasceu o Femen, em 2008.

O grupo conquistou ativistas e ergueu sua barricada contra a exploração sexual. Em seu primeiro protesto vestiram-se de prostitutas para afirmar que “A Ucrânia não é um bordel” e reivindicar a autonomia das mulheres sobre seus corpos (Marcha das Vadias, oi?). Elas defendem o ativismo de choque, usando o que é delas, o seu corpo e sua imagem tão mercantilizados, como meio de protesto. Anna Hutsol resume o objetivo do grupo: “Tudo o que nós queremos dizer é que as mulheres da Ucrânia são belas, mas não são prostitutas.”

23% das prostitutas na Europa são ucranianas.  60% das garotas que se prostituem na capital frequentam a universidade.
Protesto "A Ucrânia não é um bordel".
É claro que o Femen se multiplicou, ganhando força na Europa. O grupo antes predominantemente de ucranianas e com pautas locais passou a agrupar várias nacionalidades e a reivindicar diversas questões. Nós sabemos que movimentos de diversificação, se mal conduzidos, podem gerar contradições e descordenações ideológicas, e, o Femen não escapou disso. Essa é uma das grandes críticas ao grupo: Muita ação (isso é bom), mas poucas diretrizes concretas, pouca unidade. Acho que virou bagunça.


Anna Hutsol, fundadora do Femen.
 Anna Hutsol, uma pessoa interessante. É colocada como a líder da organização, mesmo tentando pregar a horizontalidade e não-hierarquização do grupo. Construiu uma análise social da prostituição em seu país enquanto cursava economia na Universidade de Kiev. A partir de seus estudos foi construído um panorama da triste realidade dessa “escravidão moderna” no país. Hoje, Anna lida apenas com a parte burocrática, providencia as negociações com as autoridades, contata advogados e paga as fianças.

Deixem que façam

Achei digna a reivindicação primeira do Femen e tenho certeza que o leitor e a leitora concordam. Talvez possam não concordar com o meio pelo qual protestam, usando seus corpos, mas oras, vamos querer censurar esse ato, lhes dizendo que feminismo não se faz mostrando os peitos? Afinal, estão tirando a nobreza e a seriedade da causa, falando de algo tão sério e perdendo a vergonha desse jeito, ó céus! Cubra esse corpo menina, isso é coisa de vadia!

Se ser livre é ser vadia, somos todas vadias!

A que vos fala apóia e defende a relevância de se mostrar os seios em protesto. Passada a Marcha das Vadias, todas nós, ativistas feministas, sabemos e defendemos a retomada da autonomia sobre nossos corpos, independentemente de como o fazemos. O corpo. Meu corpo. MEU.  “Tomam de volta seus corpos, tão usados pelo opressor, para dizer o que o opressor não quer ouvir. Não importa qual a ferramenta, a ideia, o conceito usado contra elas, o tomam e se orgulham disso. É a coragem de quem responde ao opressor: isso é meu e quero de volta!” – li isso no biscate social clube e adorei.

Voltando ao Femen, aliás, vamos ao Femen Brazil.
- Espera, Brazil com z?
- Pois é, Brazil com z.
- Tem que ver isso aí...

O tal do Femen Brasil (z o caralho)

Sara Winter, fundadora do Femen Br.
E então, o Femen se abrasileirou, gerando uma mistura, digamos, interessante (ou não) de muito eurocentrismo e pouco brasileirismo (sic). O alvoroço foi tanto que me pareceu uma grandiosa chegada dxs colonizadorxs do movimento feminista à Terra Brasilis. Feminismo importado da Europa - olha que chique - pois antes disso não havia luta pela igualdade de gênero no país (só que não). E a cara dessa novidade foi Sara Winter, que apareceu até no Fantástico, quando fazia treinamento lá na Ucrânia. Famosa essa menina.

Sara Winter, uma pessoa... interessante. Não se sabe muito sobre ela, apenas que já teve experiência como profissional do sexo e que já foi vítima de violência de gênero, por um ex-namorado, fatos que segundo ela, geraram a vontade de se tornar parte do Femen. Vejo nos espaços weblísticos, hoje, uma malhação de Sara. Eu, como muitas pessoas, acho que ela está a usando de forma errônea a enorme visibilidade que ganhou. Acontece o seguinte: Sara se tornou uma espécie de “líder do movimento feminista do Brasil” (segundo a mídia) com pouquíssimo conhecimento, ou nenhum, sobre o panorama de lutas no país, que datam décadas.

Quanto à malhação, Sara sofre hoje uma enxurrada de críticas ad hominem, ou ad feminem (sic o caralho), como “Ativista do Femen publicou texto em 2011 criticando protesto sem roupa” ou “Líder feminista tem símbolo nazista tatuado e diz ter sido prostituta” . E ela se defende diariamente a cada notícia que aparece, alegando que mudou, evoluiu e que “todo mundo faz merda”. Quanto a essas acusações me mantenho receosa. Quanto a Sara, permaneço em congruência com Ná Leon, “se sofrer algum tipo de agressão, será defendida, como qualquer mulher. Ainda que tenha dado declarações terríveis” – Do texto O que Sara Winter tem a ver com Caetando Safatle e Foucault? Muito., vale a pena ler.

Femen Br e o feminismo brasileiro

Encontrei uma nota sobre o Femen Br e Sara Winter do RASH-SP (Skinheads comunistas e anarquistas de Sampa) e achei muito interessante - estou achando tudo interessante, se perceberam. Primeiramente, gostaria de apontar uma coisa muito comum nas discussões sobre o Femen que é iniciar o debate com “Não conheço o suficiente sobre, mas” e afins. Bem, acho essencial buscar um pouco sobre qualquer assunto se desejas criticar ou apoiar, pra fugir dessa corriqueira alegação de ignorância sobre o assunto.

É perceptível uma aversão, talvez com razão, ao Femen Br por parte da blogosfera feminista e libertária do Brasil. Pelo que li, acredito que os diversos posicionamentos dos movimentos feministas sobre o Femen Br, podem ser compilados nesse trecho da nota do RASH:
“(...) queremos esclarecer que a RASH-SP não mantém nenhuma relação nem apoia as ações desta que se intitula “a representante do movimento Femen no Brasil” e nem do Femen Brasil, se este oficialmente existir. Sua confusão ideológica e sua vinculação com grupos de ódio vão contra toda a história da luta feminista e libertária, contra a luta feminista organizada, que combate diariamente o machismo que mata centenas de mulheres anualmente aqui no Brasil e que é, acima de tudo, antifascista.”

Acho digno deixar também a nota Nosso Brasil se escreve com S, nosso movimento não é assim não da Priscilla Caroline, no Blogueiras Feministas. Achei bacana ela reafirmar a força do movimento feminista do Brasil e lembrar-se das meninas (fabulosas) do Tambores de Safo e da Articulação de Mulheres Brasileiras, que muito antes de Sara Winter tiravam a roupa durante o protestos no país. Outro link que não posso deixar de colocar é a Carta ao Femen Br , que dá um puxãozinho de orelha e dizem - QUERIDAS, “O movimento feminista no Brasil tem pautas estabelecidas, lutas e reivindicações. O feminismo ao qual me integro é coletivo, colaborativo e inclusivo. Não “seleciona”, mas busca acolher (e se bate duramente se isso não ocorre). Meu feminismo é aquele que se questiona, se aperfeiçoa, bate cabeça, mas dialoga.”
Tambores de Safo, pela igualdade de gênero, sexual e racial.
Enfim, vadias e lindas.
Bem, espero ter elucidado de forma clara e coesa sobre o que é o Femen, de forma a ajudar o leitor e a leitora a se posicionar quanto a isso. Pra finalizar, deixo alguns links sobre o Femen Br para análise individual, e se quiserem, coletiva, através de comentários por aqui, ou pela página do Chatas no Facebook. Chateiem o quanto quiserem.

3 comentários:

  1. ai que coisa ridícula, vadias e lindas, vadia não é linda, não é livre, é feio, alguem preconceituoso disse que mulher gostosa e que adora transar era vaida, eu nunca comprei essa idéia, sempre acreditei que mulher que gosta de transar, é sensual, gosta de usar roupas sensuais é linda mas NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO É VADIA PORRAAAAAA. vai á merda sua idiotas!!! Vadia é a mãe da bosta do guarda do canadá!!

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  2. O correto seria "Vão à merda, suas idiotas!", e o mais correto seria "Vá à merda, sua idiota!" já que eu, apenas eu, escrevi o texto.

    (:

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  3. Olá meninas,
    sou da página O Machismo Nosso de Cada Dia e adorei o blog! Vou seguir e compartilhar os textos de vocês na página!
    Parabéns pela iniciativa!!
    Saudações feministas!

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