No ano de 2012 há 2.913.627 jovens entre 16
e 18 anos que podem votar nas eleições, menos que em 2008 quando eram 2.923.485
adolescentes, são dados do alistamento eleitoral, feito pelo Supremo Tribunal
Eleitoral.
Outro
dia eu estava numa parada de ônibus de Teresina, o calor típico daqui faz a
gente ficar quieto sob uma sombra qualquer. Eu aproveito para ouvir conversas
alheias. Você não faz isso? Pois eu faço. Escuto coisas hilárias, deprimentes,
comoventes, fofocas e histórias longas, clichês, opiniões interessantes. Eu
escuto de tudo.
Então
lá estava eu, um guarda-chuva tentando tapar o sol e livros e calor e o
horizonte tremulando e o meio-dia batendo nos sinos longe. Quando me aparece um
bando de adolescentes, todos vindos da escola, rindo alto, se empurrando,
ouvindo música, abraçados, pulando um no outro, enfim, aquele caos de juventude
e displicência. Eis que passa um carro de som (que nesse período eleitoral
ocupam mais a cidade que as pessoas) apitando violentamente uma canção
irritante implorando que se vote no candidatos Fulano.
Uma
mocinha reagiu:
* Caaaara, é um saco isso, véi! Ficam o tempo todo
gritando pra gente votar neles! Vou votar coisa nenhuma, nem tirei título. – e a
conversa no grupo iniciou.
* É, pra que? Esses político (sic) são um pior que
o outro, só sabem é roubar dinheiro da gente
* Mas eles roubam porque a gente deixa! Nem votar
tú vai, tem que votar sim! Se deixar de votar, eles vão continuar a roubar.
* Que a gente deixa? Política é isso! Política é mentir
nas eleições e passar quatro anos mamando nas teta (sic) do governo! Deixe de
ser besta!
* E votar em quem? Eu não confio em político, não
confio. Vou votar pra que?
* Pois vota nulo! Ou branco! Sei lá, vota naquele
que não dá teu voto pro que tá ganhando. Vou votar coisa nenhuma, nem é obrigatório
mesmo. E se fosse votar, não tem ninguém pra votar.
E meu ônibus
chegando encerrou a cena.
“Quales in republica principes essent, tales reliquos
solere esse cives”. A frase do filósofo e político romano Cícero numa
tradução simplista seria “tal qual o governo é seu povo”. E é essa frase que me
guia na tentativa de compreender a política. Voltei pra casa maquinando sobre o
que havia escutado.
Aquelas criaturas, assim como eu, serão os
adultos daqui a poucos anos. Nós seremos os braços do Brasil, nós seremos os
produtores de riqueza, sustentaremos o país. E ao que me parece, sustentaremos
sem saber o porquê ou como seria melhor. A juventude desacreditada da política
me parece uma maturidade desnorteada. Nas universidades é notória a apatia
política, em grande parte porque ao invés de local para produção do
conhecimento, virou palanque e campo de alistamento para militância partidária.
E naquelas palavras que pesquei com tanta atenção
reconheço mitos, clichês midiáticos, desilusão com nossa “cultura da corrupção”,
ignorância quanto a diferença entre as esferas pública e privada, vejo a tentativa
de construir uma identidade “rebelde”, falta de conhecimento histórico. Naquele
grupo barulhento eu vi a cara do Brasil em pouquíssimo tempo. E esta cara não é
pintada nem de bigodes, é mais uma cara assoviando enquanto o circo pega fogo
logo ali.
Temos com nossos representantes um laço, pode
ser construído por identificação ideológica, por troca de favores, por
reconhecimento do trabalho, por opção partidária, por amizade, há tantas
motivos para votar em alguém e cada um deles tem um resultado. Por isso, a fala
que mais me intrigou foi “Vou votar coisa
nenhuma, nem é obrigatório mesmo. E se fosse votar, não tem ninguém pra votar”.
Não acho que seja “errado” pensar assim, não se trata aqui de julgamentos
morais de certo ou errado, o que te leva ao inferno ou ao céu. Acho é perigoso quando se torna massivo.
Que legal se você não vai votar por protesto
ou porque não acredita em políticos ou porque tem manicure no dia da eleição.
Essa abstenção de participar da política é completamente compreensível. Mas
traz a tona o que entendemos por democracia. Queremos a democracia que
significa liberdade para participação política de todos os cidadãos ou a que
acarreta liberdade para cada um escolher participar ou não e a forma que julga
melhor para se inserir na política? E ao que me parece o Brasil ainda não
decidiu. Ou talvez viveremos com essa incongruência, aceitando nossa democracia
tupiniquim. Só sei que não adianta muito tomar como tipo ideal a democracia
americana ou inglesa, ou francesa ou até o modelo socialista que ainda não
existiu e ficar cavando buraco n’água. Eu acredito é no trabalho, se temos
limões, vamos fazer essa limonada e dar um jeito de melhorar.
ps: em 2012 as mulheres continuarão a ser maioria no pleito eleitoral. Segundo o TSE seremos 52% dos 140 milhões de eleitores brasileiros.
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