sexta-feira, 5 de abril de 2013

51 anos de Mafalda


15 de março de 1962. Nasce Mafalda.
Quase todo mundo já a viu em algum lugar. Já usou suas tirinhas em aula, já curtiu compartilhamentos do facebook, ou gosta da menininha de 6 anos de algum jeito. O que pouco se sabe é que apesar de ter aparecido pela primeira vez em setembro de 1964, Mafalda nasceu em 1962, inicialmente para uma campanha publicitária dos eletrodomésticos Mansfield. Uma das regras da agência era que o nome do personagem começasse com “M”. A campanha e os produtos da marca nunca chegaram  a entrar no mercado, adiando assim a estréia da tirinha.


O cartunista esboça uma família típica: pai trabalhador, mãe dona de casa e filha. Não fosse as preocupações com o mundo em que vive e personalidade contestadora da personagem principal, Mafalda não seria essa tirinha tão usada e admirada hoje, mais de 50 anos depois.  E não é à toa que Umberto Eco a definiu como “heroína iracunda que rejeita o mundo assim como ele é [...] reivindicando o seu direito de continuar sendo uma menina que não quer se responsabilizar por um universo adulterado pelos pais”.



Mesmo passando por períodos militares, Mafalda resistiu questionando a ineficácia do governo, a crise econômica e satirizando indiretamente governantes e práticas da Argentina na época.  A sorte da personagem é que a censura militar de 1968 a 1976 no país foi mais branda, e quando começou a se tornar rigorosa a tirinha já tinha parado de ser publicada. Se Quino fosse brasileiro, por exemplo, graças ao Ato Institucional nº 5, ela certamente seria censurada.



Chegam a entrar na história personagens um tanto quanto irônicos, como a última personagem inserida nas publicações, “Liberdade”, muito pequenina, filha de esquerdistas e com ideias diferentes dos outros personagens. Até no governo de Arturo Illia, Quino satirizava. Ele deu um animal de estimação à Mafalda que muitos comparavam com o presidente, por sua atuação inexpressiva na economia e política: uma tartaruga que se chamava “Burocracia”. Manolito, filho de comerciante, só pensa em dinheiro e no lucro do armazém de seu pai. Claramente ele ironiza o sistema capitalista e diversas vezes problematiza questões como a inflação e a desigualdade social. Há quem diga, também, que a aversão que Mafalda teria à sopa seria uma metáfora para o autoritarismo militar e foi um dos modos que o cartunista encontrou para mostrar o descontentamento com a ditadura de forma menos direta. 

 Mafalda ainda questionava outros tipos de liberdade. Fazendo sempre oposição a Susanita, que aderia a uma voz do senso comum, extremamente machista, a protagonista das tiras contestava suas falas e difundia a problemática dos direitos das mulheres bem na época do "bum" feminista. Os questionamentos sobre sua mãe também eram frequentes. Mafalda via a liberdade da mulher como algo fundamental. As décadas de 60 e 70 se destacaram pela descoberta do anticoncepcional, pela luta pelas melhores condições de trabalho e pela acensão do rock e do movimento hippie. A garotinha argentina em diversas tirinhas também demonstrava a euforia da beatlemania de sua geração.
Em junho de 1973, um triste confronto entre facções rivais de peronistas aconteceu na Argentina, com o retorno de Perón após o exílio ao país. Conhecido como Massacre de Ezeiza, o evento deixou aproximadamente 13 mortos e 365 feridos. Segundo Quino, Mafalda não suportaria presenciar tal panorama argentino, e despediu-se das publicações 5 dias depois.








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