quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Guest Post: Pelo fim da ditadura do peitão


Podem dizer que é recalque, mas: eu não aguento mais essa mania de peitão. A gente largou a preferência nacional da bunda para ser seduzido pela onda mundial do peito grande e durinho - como se tais características combinassem na vida real. Não combinam: se você tem seios pequenos ou médios, vai ter que por silicone. Se você tem peito grande, vai ter que levantá-los, que diminuir seu mamilo, que arrumar aqui e acolá. E, é claro, vai ter também que inventar uma desculpa melhor para tais intervenções do que a óbvia vaidade

Não basta ser igual a todo mundo, ser facilmente seduzido pelos padrões, ser de plástico: tem que fingir que não é. E não adianta discutir, eu já conheço todos os argumentos pró-cirurgias estéticas que você pode usar: "eu vou me sentir melhor comigo mesmo", "minha autoestima vai subir", "o caralho à 4". Típico papo de gente sem auto-estima nenhuma. Típico papo de gente que não percebe que, fora um ou dois casos extremos, auto-estima não tem nada a ver com um defeito ou dois, mas sim com a nossa capacidade de resistir às investidas da mídia e às pressões sociais. Típico papo de gente que - me desculpem a palavra - é burra demais para se dar de conta que assim como sofre por não ter o "peito preferido pelos homens", vai sofrer depois por não ter o nariz preferido, a bunda preferida, a boca preferida e o que mais inventarem pela frente. E acredite: eles vão inventar muita coisa porque, afinal, eles estão aí para isso. Essa lenga-lenga de Dr. Rey de ajudar as mulheres é papo furado. Se alguém nesse meio quisesse ajudar as mulheres, a gente ia ver mais gordinha e mais cabelo crespo na tv e ia ver mais peito pequeno na playboy - e não venham me dizer que não ia ter graça porque eu já estive com um número suficiente de homens para saber que isso, também, é papo furado. 

Essa maldita indústria da cirurgia estética - que, graças a Jeováh Jireh já vem sendo separa pela medicina da cirurgia plástica (no caso, a que virá a se tratar apenas de casos realmente necessários) - quer uma única coisa: lucro, lucro e lucro. E quando todas as mulheres tiverem o peito exatamente igual - o que vem acontecendo assustadoramente rápido - eles vão inventar outra coisa. E nós, idiotas que somos, continuaremos investindo nosso dinheiro e abrindo mão de nosso tempo e de nossa saúde até termos nos tornado bonecas de plástico, absolutamente iguais e sem graça nenhuma

Eu poderia ainda falar como o silicone é o perfeito símbolo do machismo pós-moderno. Mas apesar disso, eu não acho que a gente não deva se submeter a uma cirurgia só porque isso seria submeter a uma sociedade machista - afinal, a questão aqui é justamente mandar a opinião machista se catar. Eu acho que a gente não deve se submeter a ela - e a nenhuma outra invasiva e desnecessária - porque a gente é linda sem elas. A gente é linda de peito pequeno, camiseta branca e shortinho levando o cachorro pra passear. A gente é linda um pouco acima do peso olhando a porta da soverteria sem saber se deve ou não entrar. A gente é linda de cabelo joãozinho e de cabelo cacheado. A gente é encatadoramente linda de camiseta do namorado e sem maquiagem depois de uma noite de incrível. A gente é linda sem sneaker. A gente é linda de tantas formas diferentes e é justamente nessas diferenças que reside a graça toda. E se você acha que esse texto é lenga-lenga de mulher feia, segue aí uma random pictures de mulheres bonitas de tudo quanto é jeito:










           Texto de Ana Luiza Martins, estudante de Engenharia de Materiais e Manufatura na USP, chata, e que também escreve no every day comes & goes.


Um comentário: