Querido pastor Silas Malafaia,
Obrigada pela aula magistral oferecida na noite de ontem no programa de
TV “De Frente com Gabi”. Foi uma aula incrível de sofismo e eloquência. Quisesse
todas as causas ter um defensor como o senhor (ou você, como insistiu em ser
chamado), tão inflexível, e com o dom de torcer tudo a seu favor. Não me
espantaria se pessoas ingênuas passassem a acreditar, sem maior senso crítico,
em qualquer absurdo que você declarasse. Com tamanha paixão e agressividade,
usando o tom de voz para disfarçar inconsistências, você mostrou o como é
possível fazer tudo o que se diz parecer incontestável, frente a uma pobre Gabi
que mal conseguia completar suas perguntas (que não eram de fato respondidas)
sufocada por tamanha “eloquência”.
E que maravilhosa aula de genética! Falando em cromossomos, genes, o
senhor fez mesmo a lição de casa. Mas por favor, só peço que me perdoe, mas me
recuso a ser simplesmente fêmea, oposto do macho. Não me entenda mal, mas é que
eu acredito que o que faz de mim mulher é bem mais que meus cromossomos xx, meu
útero ou minha vagina. Me desculpe se na minha ignorância biológica eu entenda
que ser homem ou mulher transcenda isso, e se na minha ânsia por ser bem mais
que um mero determinismo genético, programado para viver e reproduzir, eu
prefira entender que ser homem ou mulher não se resume a um acidente ocorrido
no momento da fecundação. Afinal, parece tão leviano descartar toda a carga psíquica
e cultural sob a qual vivemos, não? Ah, e desculpe ainda minha ignorância se eu
não consegui acompanhar seu argumento. Afinal, o que nascer homem ou mulher tem
a ver com ser ou não gay? Não consegui observar de que forma minha sexualidade
está ligada ao meu gênero. Se como você disse “não existe um gene homossexual”,
não encontrei também em nenhum livro por aí um “gene heterossexual”.
E ficou muito claro aqui também que nenhuma luta pelos direitos das
minorias é válida. Afinal, porque uma mulher, um negro ou um homossexual
deveria ter mais medo de ser agredido que o senhor, homem, branco,
heterossexual e de classe média (porque aparentemente não se pode chama-lo de
rico), não é mesmo? Afinal, não é como se para esses grupos a razão da agressão
fosse simplesmente o fato de ser como é. E eu aqui, toda ingênua, achando que
os homossexuais (como mulheres e negros) só queriam ser parte integralmente da
sociedade que vivem, e não ter direitos a mais. E eu achando que eles só
queriam se casar, criar filhos, assim como o senhor e os membros da sua igreja
e não conquistar um direito que vocês não tenham. Mas quem diria, veja só, que
essas leis poderiam privar o senhor e outras pessoas de mente igualmente incorruptível de expulsar casais do pátio da sua igreja. E Pastor Silas, ninguém
vai denunciá-lo simplesmente por olhar para uma dessas pessoas. Afinal, o que
as minorias mais querem e pedem é que as pessoas, assim como você, possam olhá-las
no rosto, compreender seus problemas, enxerga-las como parte da sociedade. Só mais uma duvidazinha: o que o senhor diria para mãe (ou pais) solteiros ou viúvos? Como eles vão conseguir criar um filho sozinhos, sem um parceiro do sexo oposto? Como vai crescer essa pobre dessa criança? Esse não é um exemplo tão recente, e talvez o senhor não precise esperar trinta anos para me responder.
E claro, o senhor fez a todos nós um grande favor ao corrigir o enorme
equívoco de pensarmos que o senhor estava “julgando” a atitude das pessoas. Na
verdade, o senhor está simplesmente condenando, não é? Afinal, condenar sem
julgar é uma atitude maravilhosa, muito mais digna de um homem de Deus. E quanto ao seu amor, prestado igualmente a
homossexuais, bandidos e assassinos, acho louvável a comparação. Afinal, amar alguém
do mesmo sexo é quase a mesma coisa de matar uma pessoa. Talvez eu tenha
interpretado mal o que –para mim- é o maior dentre todos os ensinamentos
cristãos: amar ao próximo como a si mesmo, nem mais, nem menos, em toda a sua
maravilhosa completude como obra de Deus, sem julgar suas ações ou práticas.
Apenas amar. Matar, que se não me engano vai contra um dos dez mandamentos, com
certeza não é tão diferente de uma prática de amor.
Acho impressionante também sua opinião sobre o islamismo, que segundo o
senhor é “de um radicalismo horroroso àquilo que chamamos de religião”.
Claramente o senhor não é nenhum profundo conhecedor do islamismo que, assim
como o cristianismo, se divide em diversas correntes, mais ou menos radicais.
Assim como o cristianismo é a religião do amor o islamismo é a da paz, mas infelizmente cada um lê suas escrituras como bem entende. Claro que, com isso,
muita coisa se explica. Afinal, o que o senhor pratica nessa sua febre
apaixonada de radicalismo provavelmente é algo bem diverso de religião, seja lá
o que for.
E por fim meus parabéns à Marília Gabriela por ter tanta classe e autocontrole em quase
uma hora de frente com o senhor. Porque Deus (que como ela bem disse, não sei se
o meu é o mesmo do seu) me poupe de algum dia ter que aguentar 5 minutos nessa
mesma posição.
E para quem possa interessar, essa linda aula etá disponível no youtube nesse link: Silas Malafaia - De frente Com Gabi
E fica também uma reportagem a título de curiosidade: Super Interessante: 4 mitos sobre filhos de pais gays
Esse é pra quem tem interesse em uma resposta um pouco mais técnica que a minha: Resposta de geneticista a Silas Malafaia
Esse é pra quem tem interesse em uma resposta um pouco mais técnica que a minha: Resposta de geneticista a Silas Malafaia
Nossa, muito bom texto.
ResponderExcluirQuanta elegância para dar um tapão nesse demagogo!!
Obrigada Maria!
ExcluirFez bonito em não deixar passar em branco. Façamos reverência ao pastor que é muito bom em erística. A comparação com assassinos e bandidos é didática. Sobre a parte de julgar pecados ou pessoas: a gente usa da falácia por uma questão de legitimidade. O que se faz em nome da vaidade e da estética muitas vezes embrulha o estômago. Parabéns =)
ResponderExcluirObrigada César. Eu realmente fiquei nauseada com essa entrevista. E não podemos nos calar, já que pessoas como ele conseguem levar sua opinião deturpada para milhões, nós temos que fazer o mínimo esforço para que a outra voz também seja ouvida.
ExcluirOlá meninas.
ResponderExcluir- Eu acredito
- Eu creio
- Não estou aqui para fazer ninguém deixar de ser homossexual...
Essas palavras foram usadas mais de uma vez pelo pastor Silas.
A sociedade defende tanto a liberdade de expressão e onde ela entra nesse momento?
Qual o problema de amar um homossexual da mesma forma que se ama um bandido? Como o próprio pastor disse, uma mãe deve deixar de amar seu filho por ele ser bandido?
Repercussão exagerada para denegrir a imagem de um pastor, essa é minha conclusão.
Oi Aline. Acredito que da mesma forma que o Pastor tem total liberdade para se manifestar, nós temos para discordar. Liberdade de expressão não pode ser uma desculpa para simplesmente "deixar falar". temos que lembrar que Silas Malafaia é um homem importante e um claro formador de opiniões. Por isso acreditamos ser tão importante rebater suas afirmações, mostrar "o nosso lado". Não temos como objetivo denegrir a imagem de ninguém. Eu pessoalmente (que escrevi o texto) busco evitar ataques pessoais, embora admita que ele não é uma pessoa com quem eu simpatize. O que tentamos atacar aqui são as ideias. Da mesma forma que ele se posiciona como um formador de opiniões é isso que, em menor escala, tentamos fazer aqui. Se atacamos as ideias do pastor é porque temos um objetivo muito claro: buscar uma sociedade mais aberta e tolerante. Espero que compreenda isso.
ExcluirOlá Aline, o pastor Silas tem todo o direito de pensar e falar o que ele quiser, e as outras pessoas tem o mesmo direito de discordar ou concordar e expressar isso.
ResponderExcluirAo se posicionar temos que ter consciência de que estamos usufruindo de nossa liberdade de expressão e de que retaliações, discordâncias são normais. Creio que ele sabe disso e está preparado para, não é para denegrir a imagem de ninguém.
Não posso negar que o Silas é muito inteligente e este é o motivo de ter sucesso e enorme público. Espero que cumpra sua promessa de não entrar na política. Imagina a bancada evangélica com um brilhante formador de opiniões à frente! E no Brasil, carente de educação e informação...
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