sexta-feira, 30 de março de 2012

Sobre panelas, tigelas e mulheres


Luísa é aquela amiga da fofoca intelectual, dos papos futurísticos sobre arte, da identificação. Em pouco tempo nossas almas se reconheceram. Erradas, sem encaixe, destoantes e desconexas, literalmente tigelas.

A história de panelas e tigelas começou numa das infindáveis conversas de “mulherzinha”, devíamos estar reclamando de como o mercado amoroso estava em queda, provavelmente. Num insight divino percebemos a causa e solução de todos os problemas, elaboramos a teoria das tampas.

Assim como esquerda e direita, claro e escuro, Flamengo e Vasco e todas as figuras opostas que existem, há as panelas e tigelas. Panelas são as mulheres com tampa, as moças que facilmente despertam interesse, rapidamente se envolvem, em pouco tempo são pedidas em namoro e que casarão, com certeza. Essas criaturas abençoadas podem escolher qual tampa lhe serve melhor e vivem a cozinhar o amor em fogo brando. Elas estão espalhadas por aí, concorridas e cheias de alegria. Você deve conhecer uma.

Já a mulher tigela não tem tampa, mas com o tempo aprende a preencher-se até o topo. De vez em quando um papel filme ou celofane aparece e a fecha, mas não é o encaixe perfeito. Para as tigelas não há perfeição. São as mulheres inatingíveis, amedrontadoras ou antipáticas e cheias de frescurite. Essas se metem em confusão sempre que o cupido aparece, provavelmente ele é vesgo e destrambelhado. 

Mas não se engane, as panelas e tigelas podem ser igualmente felizes; a diferença é que as tigelas terão mais trabalho. Basta transformar seus “defeitos” adoráveis em identidade e o mais importante, aceitar-se tigela com orgulho. A questão é cuidar de nossas bordas com carinho, sem tentar mudar sua forma para parecer uma panela. E ensinar às panelas e tigelas mais novas que a beleza é existir, de qualquer modo, sem restrição.

A propósito, hoje é aniversário de Luísa, a tigela mais graciosa que pude conhecer, malemolente e cálida, que tem os olhos da América Latina.

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