quarta-feira, 28 de março de 2012

Batom Vermelho

O universo feminino é repleto de minúcias, e o batom vermelho ocupa, sem duvidas, um lugar especial nesse cosmos. Quem nunca cedeu ao seu apelo? Em capas de revistas, jantares refinados, na vendedora de uma loja ou em um lugar especial no
seu kit de maquiagens, ele estará na sua vida de alguma forma. Ele é uma das coisas mais femininas em que podemos pensar. Mas ele já teve outro peso, outra força. Hoje, o batom vermelho se tornou um lugar comum, caiu na banalidade. Já não chama tanto a atenção ou causa estranhamento. Não foi sempre assim. O batom vermelho já foi uma marca, símbolo de sensualidade, reservado muitas vezes àquelas que podiam possuí-la, exibí-la e vendê-la: as prostitutas, mulheres que, embora rechaçadas pela sociedade, possuíam algo que causava inveja em muitas: o monopólio da sensualidade. Tendo surgido em algumas das mais antigas civilizações, sendo usada por rainhas nas mais diversas eras, essa peça nobre do mundo das maquiagens já foi praticamente banida da cultura ocidental por volta do século XVII, quando condenado pela igreja passou a ser associado com a vulgaridade o pecado.

Como símbolo do que é sexual, ele ganha um peso na nossa sociedade. No imaginário ocidental, ter sua sexualidade aflorada, ser sensual, não era para qualquer uma, e tinha um custo muitas vezes alto demais. Para a mulher “de família”, o sensual e o moral andaram sempre em lados opostos. Um homem sempre buscava uma mulher recatada para constituir família, às outras, restava o limbo. Mas isso mudou. Será?

Vivemos uma reinvenção de símbolos. O batom vermelho vem perdendo sua força, se tornando só mais um item acessório, e sendo substituído por outros cada vez mais morais e abstratos. Comportamentos, crenças, valores. Todo ser humano está sujeito a julgamentos e estereótipos, mas ser mulher já é um por si só. Ao contrário do pai solteiro que é admirado por sua “bravura e dedicação”, a mãe solteira é condenada. Ser mulher é ser culpada até que se prove o contrário. Aqueles que dizem que a mulher deve ser protegida por ser o “sexo frágil” são os mesmos de quem deve ser protegida. Ser mulher é carregar a cruz até no símbolo.

Hoje, a sensualidade entra para a lista do que se espera de uma mulher. Mas não a sexualidade. Sua sensualidade tem como finalidade última um prazer que não é o seu. Sim, você pode usar um batom vermelho, contanto que ele adorne lábios fechados e sorridentes. Seu corpo é um objeto de prazer, mas não o invólucro dele.

O que queremos hoje não é APENAS usar um batom vermelho, é deixar com ele uma marca. Uma marca de mulher, sim, como ser ativo. Torná-lo símbolo do que a boca tem a oferecer de melhor: a palavra. Deixar assim uma marca no lugar mais importante de todos: na consciência coletiva, maquiada de liberta, mas que ainda julga nossos lábios, rubros ou não, quando fazemos barulho. ainda julga nossos lábios, rubros ou não, quando fazemos barulho

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