sábado, 23 de março de 2013

Vermelha flor, vermelha bandeira


Eu fui pelo óbvio. Escolhi a mulher que tem sido minha maior inspiração (cahem, obsessão) nos últimos tempos. Como a vida é sempre caótica e todo dia é dia de luta, esse post se encaixa na série que nós, Chatas, combinamos que haveria no Dia Internacional da Mulher (que tem correlação direta com uma greve de operárias na Rússia, sabia?), mesmo sendo postado quase no final de março.
Vamos a ela...



Rosa Luxemburgo veio ao mundo com a Comuna de Paris e seu futuro foi vermelho de luta sangrenta. Mulher, polonesa e judia fez do campo de batalhas que seria sua vida pela conjuntura da época um espaço de construção e, tornando-se comunista, teve participação ativa em diversos processos sociais de todo o mundo e deixou marcado na memória seu nome, sua obra.
Com dezesseis anos já fazia parte de um partido político ilegal na Polônia e teve de deixar seu país como perseguida política. Brilhante, tornou-se doutora em Ciências Políticas pela Universidade de Zurique em um mundo em que a maioria das mulheres de seu círculo social não tinha sequer acesso ao Ensino Superior. Entrou para o Partido Social Democrata (SPD) alemão em 1898 e, em 1898 e 1899, escreveu dois artigos teóricos que contestavam as posições políticas de um dos maiores teóricos do partido em que recém-ingressara: Edward Bernstein.

Seus artigos tornaram-se o livro “Reforma ou Revolução?” em 1900, imediatamente alçado a uma das obras clássicas da literatura marxista e ela se tornou um dos nomes de maior destaque na corrente de “marxistas ortodoxos” do SPD. Em 1914, o partido que outrora se identificara como revolucionário e construíra Segunda Internacional Comunista votou a favor da participação alemã na Primeira Guerra Mundial e calou diante de sua prisão.
Suas análises político-econômicas dividiram águas, mas não devemos nos esquecer de que – com menos intensidade do que Alexandra Kollontai e Clara Zetkin – participou de debates e espaços feministas, como a I Conferência Internacional de Mulheres Socialistas, em 1907.
Rompeu com o SPD em 1916 e participou da fundação da Liga Espartaquista, que se tornaria o Partido Comunista Alemão na primeira semana de 1919, pouco antes do assassinato de Rosa, em 15 de janeiro. Pode-se até considerar que os levantes populares orquestrados pela Liga Espartaquista foi um erro estratégico, mas devemos levar em conta a situação desesperadora dxs alemãxs que não queriam que a guerra continuasse, que não concordavam com o que estava sendo posto em jogo.
Deixo minha homenagem a ela em poema, que sempre foi minha melhor forma de dizer as coisas:

A flor

O rosto dela balança no broche preso na bolsa da moça.
O rosto dela balança com o balanço do tecido
E surge entre dobras e pregas

No meio de uma reunião, no meio de um ato,
No meio do nada.

Rosto altivo de lutadora, na bolsa de tanta gente que luta
Na blusa de tanta gente que busca.

Seu camarada amante teve o rosto deixado para trás,
Mas ela ressurge de onde menos se espera
Em foto séria, sem traços da ironia presente nos textos,
Sem traços do espinho de flor que é seu nome.

Vermelha flor, vermelha bandeira,
No broche na bolsa na blusa no bolso
No peito
No livro
Na luta que segue.
I Assembleia Geral dxs Estudantes da UFRJ, maio de 2012. Decretou greve estudantil.

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