Mulheres, virgem Maria
cheia de graça ou Eva, a pecadora, a escolha é da freguesia.
Essa dicotomia desde sempre vem sendo colocada como dois únicos modelos de
mulher: Aquela imaculada e submissa e aquela outra que vive, apenas, para
tentar o homem – entrelinhas: Esta segunda deverá ser domada tornando-se Maria Madalena, a pecadora arrependida.
É bem difícil apontar uma religião teísta na
qual não haja a crença de que mulheres são seres humanos inferiores aos olhos
de deus. Basta um passar
de olhos para encontrar palavras, na bíblia, que “justifiquem” violações dos direitos das
mulheres, como o foco do post é outro, não exemplificarei. Os religiosos
mais moderninhos dirão: “Credo, isso foi escrito há muito tempo atrás, ninguém mais
acredita”.
É AÍ QUE VOCÊ SE
ENGANA. O discurso pode até ter sido atualizado, entretanto, a mensagem de submissão
das mulheres ainda é propagada. Tendo em vista que este post faz parte da série
do Estado laico, mas nem tanto, a leitora ou o
leitor não ficará surpresx quando eu fizer o casamento entre Políticxs e Fundamentalismo
religioso. Essa união gera muitos filhinhos, chamados “Tentativas desesperadas
de enfiar suas crenças goela abaixo de toda a população, oprimindo qualquer um
que, segundo a bíblia, deva ser apedrejado, ou whatever”.
É com muita convicção
que aponto a religião como a maior causa de base da violação dos direitos das
mulheres.
Alguns
pressupostos religiosos sugerem que as mulheres devem ser impedidas de
desempenhar um papel igual ao dos homens, já que, são inferiores. Esse
argumento é uma bela desculpa para o marido que espanca a mulher, o cara que
viola uma mulher, o patrão que paga menos para as empregadas, os
políticxs-religiosxs que decidem proibir o aborto de um embrião feminino.
Letícia Castilho, Obscena agrupamento - Dia Internacional da Mulher, BH, 2012 |
Ao falar de aborto, eu aprecio falar sobre o texto do médico queridinho do Brasil, Dráuzio Varella, e sempre espero que seu
posicionamento abra a mente de algumas pessoas. Ele começa sua fala jogando uma
informação que todxs sabem, mas fingem que não: “Desde que a pessoa tenha dinheiro para pagar,
o aborto é permitido no Brasil. Se a mulher for pobre, porém, precisa provar
que foi estuprada ou estar à beira da morte para ter acesso a ele. Como
consequência, milhões de adolescentes e mães de família que engravidaram sem
querer recorrem ao abortamento clandestino, anualmente.”
Outro
argumento dele, que também defendo, é que a questão do aborto em nosso país
está extremamente mal posta, coloco aí a intolerância e religiosa e falta de
informação como causas desse fato. “Defender o aborto” não é ser a favor, a
questão é “defender o direito da mulher pelo aborto seguro” e cobrar que todas
as mulheres tenham esse direito igualmente, e não só aquelas que tenham
dinheiro possam fazer de maneira humanizada.
Gostaria de
colocar em pauta o puxão de orelha básico da perita da
ONU, Patrícia Schulz, em relação à questão do aborto em nosso país. A
Organização das Nações Unidas desde 2007 vem cobrando que a criminalização do
aborto fosse revisada pelo governo e as cobranças foram ignoradas. Segundo ela,
“O
código penal brasileiro é muito restritivo e, mesmo em casos legais, médicos temem
conduzir os procedimentos”.
De
acordo com pesquisas da Organização, são registrados em média 3 mil abortos
legais, em caso de estupro, por ano. E enquanto isso, mais de 1 milhão de abortos
ilegais são realizados, sendo que 250 mil dessas mulheres são internadas no
Sistema Único de Saúde por complicações anualmente. “O que é que o governo está
fazendo para humanizar essa situação?” indagou Patrícia. Em seu ponto de vista, e no de muitas outras
pessoas pensantes desse país, há um perigo de retrocessos nos direitos humanos
pairando sobre o Congresso brasileiro. Felizmente, nesse âmbito, tivemos um
passo importante recentemente, a legalização do aborto de anencéfalos, que a
Mari Rios fala um pouquinho sobre aqui.
Em 2008, a Ipas Brasil em conjunto com
o Instituto de Medicina Social da UERJ realizaram um estudo chamado A Magnitudedo Aborto no Brasil: aspectos epidemiológicos e sócio-culturais, fica a dica, pra quem se interessa pelo estudo do assunto.
Bem, os números são
incisivos: É preciso agir, é preciso debater essa questão, é preciso garantir o
aborto legal e seguro para todas! Entretanto, estudos, números e o apelo pela
autonomia das mulheres sobre seus corpos e direitos reprodutivos não têm sido
muito efetivos contra a muralha de intolerância e fundamentalismo religioso no
cenário político brasileiro.
Incomoda muito esse assunto, tão
intimamente feminino, estar nas mãos de políticos, os quais nunca vão sofrer as dores do parto de um filho, seja ele desejado ou indesejado.
Retomando a defesa pelo real estado laico, reivindico a total exclusão de
convicções religiosas dos assuntos de interesse estatal e social. Devemos dizer não à religiosidade que tenta
impregnar os debates sobre os direitos reprodutivos das mulheres no âmbito político.
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