domingo, 27 de maio de 2012

A-ha, u-hu, a universidade é nossa.


Revolução feminina. Queimem os sutiãs! Vistam calças, cortem as saias! Estraçalhem os espartilhos, quebrem os saltos. Deem saltos. Cheguem mulheres, ao exército, aos aviões; invadam as lutas, transpassem os limites da intelectualidade marciana. Vamos, meninas, mostrem o que Vênus tem de melhor! Pisem nas baratas e provem que lugar de mulher é onde ela quiser.

Analisando o histórico feminino temos muitas vitórias, de fato; mas ainda há um tortuoso caminho de subverter a ordem vigente. Não quero que homens e mulheres sejam iguais em todos os aspectos, longe disso, nossas diferenças biológicas e comportamentais (advindas principalmente das construções sociais que cada sexo tem) equilibram o mundo. O que reivindico são oportunidades iguais, liberdade para sermos exatamente aquilo que podemos  e queremos ser.  

Mas a revolução feminina da qual venho hoje falar é nossa presença no ensino superior. Em 1879 D. Pedro II assinou a lei que permitiu o ingresso de mulheres no ensino superior brasileiro, a primeira a diplomar-se foi Rita Lobato Velho, que se formou em Medicina, pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1887. De lá para cá são 133 anos e os números mostram que tomamos nossos lugares na academia. Em 1997 éramos 53,6% e em 2010 chegamos a 60%, segundo dados do Inep.

Na síntese dos indicadores sociais de 2009, do IBGE consta que:


“Em se tratando do contingente de pessoas com 12 ou mais anos de estudo, ou seja, das pessoas já inseridas no nível superior ou com nível superior completo, a desigualdade entre homens e mulheres é ainda maior. Verifica-se, em 2008, que no Brasil, de cada 100 pessoas com 12 anos ou mais de estudo, 56,7 são mulheres e 43,3 são homens” (IBGE, 2009, pág. 203)






Entretanto, por mais que tenhamos invadido as salas de aula das universidades, temos salários menores e condições de trabalho mais precárias.  Na mesma pesquisa do IBGE percebemos que:


“Em se tratando do rendimento do trabalho das mulheres versus o dos homens, os dados mostram que em todas as posições na ocupação, o rendimento médio dos homens é maior que das mulheres. A maior diferença de rendimentos médio é na posição de empregador, onde os homens auferem, em média, R$ 3 161,00 enquanto as mulheres apenas R$ 2 497,00, ou seja R$ 664,00 a mais para os homens, que corresponde a dizer que as mulheres empregadoras recebem 22,0% a menos do rendimento dos homens.” (IBGE, 2009, pág. 295).
  

 Os dados são esses, temos mais mulheres no ensino superior, mas ganhando menos. Ou o problema deve ser invertido? Temos mulheres ganhando menos, só que um número maior de universitárias. A segunda frase dá certa esperança, de que as atuais universitárias consigam romper as barreiras da sociedade patriarcal na qual vivemos e concorram no mercado de trabalho em pé de igualdade com os homens, ou seja, através do mérito e competência. E ter esperança é algo que aprendemos desde cedo, nós mulheres; então deixo aqui minha pitada de certeza, o IBGE vai ter surpresas nas próximas pesquisas sobre a mulher. 

2 comentários:

  1. Discordo, Ananda. Não acho que é por ESSA mudança no perfil do ensino superior que as mulheres passarão a ganhar menos em uma média nacional. As trabalhadoras fazem alguns dos trabalhos mais mal-vistos pela sociedade em um geral: empregada doméstica e professora primária, por exemplo. Quando as tarefas que são consideradas femininas e menores passarem a tarefas sociais (no caso da profissão de "doméstica", deixar de existir porque todo mundo passará a limpar a própria privada -e confesso que ainda não cheguei lá) sem divisão de gênero, aí sim veremos mudanças nas pesquisas do IBGE.
    Por enquanto, é uma reforma das elites. E, como nós bem sabemos, as reformas das elites não são revoluções populares.

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  2. É, concordo com a Maria em alguns aspectos. Acrescento ainda que (não se sabe exatamente por que, mas é um fato que se vê no cotidiano até das universidades), ao contrário dos homens, as mulheres raramente exercem funções das áreas de exatas e tecnológicas, por exemplo (que estão entre áreas que mais dão dinheiro), enquanto enchem as salas de aula de profissões da área de humanas que, infelizmente, não são tão bem remuneradas assim...

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