Sou da geração que descobriu a internet. Quando pré-adolescente, todos tinham seu flogão, fotolog, ou mesmo blog. Não podíamos viver sem nossas contas do MSN, do orkut, e mais tarde do twitter e facebook. Ficamos online 26,4 horas por mês*, mais de um dia inteiro conectados com o mundo – seja no computador, notebook, celular ou tablet.
Não conseguimos passar um dia sem entrar no nosso facebook. Seja pra curtir, comentar, compartilhar ou postar alguma coisa: precisamos mostrar algo para o mundo. Algo que diga como somos, no que acreditamos, em como estamos bem. Algo que mostre tudo o que achamos que vale a pena. Queremos ser vistos como pessoas bonitas, inteligentes, interessantes e, sobretudo, muito felizes!
Seja com fotos do instagram, com frases de Caio F. Abreu, com tirinhas do Laerte, queremos mostrar o quão antenados estamos, o quão nossa vida vale a pena, o quão podemos ser úteis e ter opiniões fortes. E ficamos deprimidos se ninguém curte o que estamos falando. Nosso desejo é saber que as pessoas nos viram e sentiram empatia pelo que estamos passando.
Nos mostrar felizes, para nós, é ser feliz. Qual seria o sentido de se sentir bem se ninguém nos vê? “O que aparece é bom, o que é bom aparece”**, e não adianta nada a gente ser inteligente, bonito, espiritualista, bom e interessante, se ninguém vê e concorda com isso. Não adianta nada ter um carro, o celular do momento, o acessório de marca, o objeto de consumo do momento, se ninguém está olhando. Nosso espelho é a reação de quem vê.
Não que essa característica seja própria dos novos tempos. Além da internet, essas afirmações acontecem em lugares públicos, com a reação da família, dos amigos, com os olhares de reprovação ou aprovação das pessoas. Estamos fadados a nos ver nos olhos dos outros. Se perceber é perceber como o exterior nos percebe. Auto-crítica na verdade é crítica de si mesmo a partir do que vemos das reações e normas exteriores. Quando dizemos, todo final de ano, que fizemos uma análise de nossas vidas e depois da virada vamos emagrecer, ser mais responsáveis e abraçar as possibilidades de um novo amor em nossas vidas, falamos pela nossa necessidade de nos tornar seres perfeitos diante da sociedade. “Quero ser magro, responsável e amado porque é assim que todos acham que são as pessoas felizes. É assim que me vendo as pessoas vão aprovar, e até sentir inveja”.
Gostamos de dar inveja. De mostrar que nossas vidas valem a pena. De dizer que não precisamos de nada nem ninguém para sermos felizes – além da fundamental necessidade de mostrar tudo isso. Se antes o importante era ter coisas que nos remetem à felicidade, hoje só o que importa é parecer ser feliz. É parecer culto, intelectual, diferente, ou mesmo parecer bonito, querido por todos, desejado. Mesmo sendo ou tendo, ser e ter não faria sentido se não parecêssemos assim. Por isso a necessidade de postar fotos sorrindo com os amigos, fazer o check-in naquela exposição tão comentada no Centro Cultural, comentar sua posição política a partir de uma notícia de internet... Por isso nos sentimos também obrigados a não fazer parte disso, a não postar nada, a não ter conta do facebook. Precisamos mostrar de alguma forma que não fazemos parte disso, que somos superiores – e que somos felizes assim. Por isso a necessidade, mesmo que pela omissão, de falarmos alguma coisa.
E somos felizes assim. Muito felizes. Proporcionalmente à quantidade de pessoas que viram e curtiram isso.
OBS.: Enquanto escrevi esse texto, deixo bem claro, me desconcentrei muito olhando minha conta do facebook, curtindo fotos de amigos felizes na balada, lendo e comentando notícias políticas. Sou farinha do mesmo saco. Estamos no mesmo barco. Não critico nem culpo essas características, apenas quis problematizar algo que está presente no nosso dia-a-dia.
*: Dados da comScore disponível aqui.
**: de Guy Debort, em Sociedade do Espetáculo (leia online aqui)
Caramba Mari! não costumo acompanhar muito o blog, mas esse texto resume perfeitamente a nossa geração. Às vezes sinto falta do conforto de ficar triste, mas não posso. Até porque é proibido ser triste em tempos de novas mídias sociais,baladas e bebidas. Mais uma vez, texto perfeito.
ResponderExcluirCaraca, Moe por aqui! Que lindo!!!
ResponderExcluirDe fato, nossa geração sofre da obrigatoriedade social em ser feliz, as pessoas não conseguem viver os momentos ruins ou tristes e encará-los como parte da vida. Me amedronta, mas ao mesmo tempo me pergunto se não foi sempre assim. Daí eu lembro de Anna Karenina, "Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira", nossos modelos de felicidade inalcançáveis alimentam esse ciclo vicioso que só muda de cara com o tempo, mas permanece com a mesma essência.
Nossa, digo o mesmo, que bom te ver por aqui, Moe! Muito pertinente seu comentário/desabafo. Somos levados a acreditar na plenitude da felicidade, especialmente a alcançada com a realização de um amor igualmente utópico, e não conseguimos lidar com os fracassos decorrentes dessas sagas.
ResponderExcluirEsse texto e os comentários me lembraram essa música, dessas que a nossa geração nem ouve, que lembra a efemeridade disso que nomeamos felicidade: http://www.youtube.com/watch?v=1hx5-XoRCVw
Moisés, fico muito feliz com seu comentário (de verdade!).
ResponderExcluirE Ju, adoro essa música, não lembrava mais dela. :)
vou compartilhar seu texto no facebook. kkkkk
ResponderExcluir