Quando
nossos olhos se cruzaram todas as sensações foram claras. Naqueles olhos eu
podia ver minha vida. Meus filhos, com o mesmo tom de castanho esverdeado.
Minha família, meu futuro, minha estabilidade. O calor que se trocava naquele
simples olhar podia incendiar todo o meu corpo.
Cada
segundo daquele contato eletrizante me deixava mais distante do chão. Rápido,
subi às nuvens. E lá de cima pude ver o mundo inteiro, como um borrão, cada uma
das minhas dúvidas, os meus erros, os meus segredos mais sombrios, vistos
daquele lugar pareciam pequenos demais para que eu me importasse,
insignificantes.
E
deixei-me voar. Sua presença se fazia etérea próxima a mim, uma onda de
segurança e ternura que acredito ser inigualável. Reinava o silêncio, quebrado
apenas pelo pulsar, rítmico e quente do meu coração. A cada batida minha alma
vibrava como o sino de uma igreja, que embala a hora da missa como o momento
mais sagrado. O momento de comunhão, amor.
E
assim, por alguns instantes experimentei o êxtase maior da minha vida. Era
paixão, na sua forma mais simples e encantadora. Senti-me plena, mulher,
humana, insólita como um suspiro, uma brisa de verão. Nunca me senti mais longe
ou mais perto da realidade. Mas foi apenas um instante. Chegou a estação
seguinte e ele desceu. Foi-se embora o grande amor da minha vida, um estranho
no metrô.
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