sexta-feira, 25 de maio de 2012

Encontro


               Quando nossos olhos se cruzaram todas as sensações foram claras. Naqueles olhos eu podia ver minha vida. Meus filhos, com o mesmo tom de castanho esverdeado. Minha família, meu futuro, minha estabilidade. O calor que se trocava naquele simples olhar podia incendiar todo o meu corpo.
               Cada segundo daquele contato eletrizante me deixava mais distante do chão. Rápido, subi às nuvens. E lá de cima pude ver o mundo inteiro, como um borrão, cada uma das minhas dúvidas, os meus erros, os meus segredos mais sombrios, vistos daquele lugar pareciam pequenos demais para que eu me importasse, insignificantes.
               E deixei-me voar. Sua presença se fazia etérea próxima a mim, uma onda de segurança e ternura que acredito ser inigualável. Reinava o silêncio, quebrado apenas pelo pulsar, rítmico e quente do meu coração. A cada batida minha alma vibrava como o sino de uma igreja, que embala a hora da missa como o momento mais sagrado. O momento de comunhão, amor.
               E assim, por alguns instantes experimentei o êxtase maior da minha vida. Era paixão, na sua forma mais simples e encantadora. Senti-me plena, mulher, humana, insólita como um suspiro, uma brisa de verão. Nunca me senti mais longe ou mais perto da realidade. Mas foi apenas um instante. Chegou a estação seguinte e ele desceu. Foi-se embora o grande amor da minha vida, um estranho no metrô.

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