quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Guerrilla Girls: gorilas, meninas, guerrilheiras

Homem-aranha, Batman, Robin. Heróis com dupla identidade que lutam pelo bem dos cidadãos. Mascarados. Homens. Fictícios.
Guerrilla Girls. Heroínas com dupla identidade que lutam pelo bem das cidadãs. Mascaradas. Mulheres. Reais. Artistas.


Tudo começou em 1984, quando o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque abriu a Mostra Internacional de Pintura e Escultura Contemporânea (“An International Survey of Recent Painting and Sculpture”), que faria uma reunião de obras dos grandes artistas contemporâneos.

Dos 169 “escolhidos”, apenas 13 eram mulheres. E para aumentar a fúria das que seriam mais tarde as Guerrilla Girls, o curador da exposição ainda fez a seguinte declaração: “OS artistas que não estavam na exposição deveriam repensar a sua carreira” (ênfase no artigo masculino, ou seja, a frase era apenas dirigida a artistas homens) – a frase original é “any artist who was'nt  in the show shoul rethink HIS career”.

A partir daí, o movimento começou a tomar forma. Motivadas inicialmente pela conquista de espaço no mercado de arte, as Guerrilla Girls lutam pelos direitos humanos como um todo - expandindo seu foco também às negras, à descriminação do aborto e ao direito feminino de controle do seu próprio corpo.



"Mulheres têm que estar nuas para entrar no Museu Metropolitano? Menos de 4% dos artistas nas salas de Arte Moderna são mulheres, mas 76% das obras são nus femininos"



"Você está vendo menos de metade da pintura sem a visão das mulheres e dos negros"

"As Guerrilla Girls exigem o retorno aos valores tradicionais para o aborto. Na primeira metade do século XIX, o aborto nos primeiros meses da gravidez era legalizado. Nem mesmo a Igreja Católica o proibia até 1869"

 O curioso é que não são apenas as máscaras de gorila que constituem a identidade das meninas, mas também os nomes que elas utilizam. Entre as integrantes temos Frida Kahlo, pintora mexicana, Paula Modersohn-Becker,  artista alemã e Romaine Brooks, americana, nomes de artistas  falecidas escolhidos pelas mulheres por trás das máscaras de primatas para formar sua segunda identidade.

Se apropriando da linguagem visual publicitária, as Guerrilla Girls criticam o mundo de forma irônica e inteligente. Paula Modersohn-Becker afirmou em entrevista que “o mundo da arte era tão patético, tudo que podíamos fazer era tirar sarro disso”. “Nós também queríamos fazer o feminismo elegante de novo, com novas táticas e estratégias”, segundo Romaine Brooks.
"As vantagens de ser uma mulher artista: Trabalhar sem a pressão do sucesso; Não ter que estar nas exposições com homens; Ter uma saída do mundo da arte em seus 4 trabalhos como free-lancer; 
Saber que sua carreira deve deslanchar quando tiver 80 anos; Ser tranquilizado de que qualquer tipo de arte que você fizer vai ser rotulada "feminina"; Não ser apenas professora; Ver suas ideias nos trabalhos dos outros; Ter a oportunidade de escolher entre a carreira e a vida de dona-de-casa; Não se sufocar com aqueles grandes cigarros ou ficar roxa naqueles paletós italianos; Ter mais tempo para trabalhar quando seu companheiro te troca por alguém mais novo; Ser incluída nas versões revisadas da História da Arte; Não ter que passar pelo constrangimento de ser chamada de gênio; Tirar fotos para revistas de arte com uma máscara de gorila"

"Republicanos acreditam no direito da mulher de controlar seu próprio corpo: pintar o cabelo e colocar maquiagem; fazer cirurgia de nariz; colocar botox; fazer lipoaspiração; colocar silicone; ter anorexia e bulimia; atrofiar os pés; remover o clitóris"
"Mulheres na América ganham apenas 2/3 do que os homens ganham; Mulheres artistas ganham apenas 1/3 do que os homens ganham"

Para elas, a tendência de reduzir a arte de uma época a alguns “gênios” e suas obras-primas é míope. A palavra “gênio” está relacionada à palavra semelhante no latim designada para “testículos”. Talvez isso explique porque ela é tão raramente utilizada para se descrever uma mulher, ironiza uma das integrantes no site do movimento.

O nome surgiu a partir de um erro ortográfico. Numa das primeiras reuniões do grupo, uma de suas integrantes escreveu “gorilla” ao invés de “guerilla”. Foi o estalo que deu origem a identidade visual das meninas.

Um movimento que começou com a indignação de um grupo de mulheres, com cartazes colados na calada da noite em Nova Iorque, hoje alcança o mundo inteiro. Os mesmos cartazes impressos às pressas aparecem hoje em livros de história da arte, em museus e na internet. Hoje em dia as Guerrilla Girls viajam o mundo fazendo apresentações, palestras e workshops em escolas, museus e outras organizações mostrando seu trabalho e criticando inteligente e ironicamente o mercado de arte e mostrando seu trabalho como ativistas feministas. A última vez que estiveram no Brasil foi em 2010.
"Primeiro eles querem tirar o direito de escolha da mulher; Agora eles estão censurando arte "
"Não sou (lista com vários rótulos femininos)! Não me rotule com esteriótipos!"

Em entrevista, uma das integrantes do grupo fez a seguinte declaração:

“Consideramos ridículo que muitas pessoas que ainda acreditam nas doutrinas feministas (pagamento equalitário para o trabalho, liberdade sexual, direitos humanos para as mulheres em todo o mundo, incluindo direito à educação) têm sofrido uma lavagem cerebral por causa dos esteriótipos negativos na mídia e na sociedade e se recusam a se chamar, eles mesmos, de feministas.”

Em seu site, elas finalizam uma parte explicativa de seu trabalho com as frases

“O mundo precisa de mais grupos feministas que apenas um” (the world needs more feminist avenger groups that just one)
 “Continuem causando problemas e agindo!” (keep making trouble and acting up)


 Pra quem ficou interessado, tem um documentário sobre elas, Guerrilla Girls In Our Midst, disponível aqui.



Pesquisando sobre o grupo, houve uma pequena confusão. Existem três grupos, as Guerrilla Girls, as Guerrilla Girls On Tour e as GuerrillaGirlsBroadBand. Os dois últimos foram fundados por ex-membros do original Guerrilla Girls. Guerrilla Girls On Tour é um coletivo de teatro que faz peças, performances, teatro de rua e dramatizações sobre a história da mulher, dando oportunidade a mulheres e artistas negros. Já as GuerrillaGirlsBroadBand foram formadas pela nova geração de feministas e artistas negros. Combatem o sexismo, o racismo e a injustiça social, explorando tabus.


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