Esse vídeo é uma
adaptação do curta argentino Por la Calle, uma
tragicomédia que traz à tona a questão da violência verbal e sexual contra
mulheres nas ruas. A Campanha, dirigida por Hugo Meyer, solta a questão: "Qual a
pior coisa que você já ouviu nas ruas?" E, ao inverter os papéis, propõe que os
homens se coloquem no lugar das mulheres e as deixem em paz.
O trajeto percorrido pelo vídeo é
o mais be-a-bá de todos, de casa ao ponto de ônibus. Inicialmente ele, a
vítima, fica surpreso e lisonjeado com os “elogios”, mas, no decorrer da
caminhada as cantadas se tornam xingamentos, constrangimentos, ou, assédio
verbal. E é neste ponto que repousam duas importantes questões: A linha tênue
entre um elogio e um assédio verbal/sexual, que é comumente ignorada; E, a latente
desigualdade de gênero como causa magna dessa violência naturalizada.
Violência? Que exagero! - alguns
dirão, ou melhor, muitos dirão. Não tenho medo de afirmar (com toda a certeza)
que as pessoas que acharão isto um exagero são majoritariamente homens.
São pessoas que nunca tiveram que lidar com tais situações e ainda (pasmem)
ousam dizer algo como: Toda mulher adora uma cantada de rua. Claro, eis o fato:
Mulheres, em geral, para se
sentirem bem, desejadas e lindas precisam saber às 7h da manhã, no meio de uma
rua qualquer e através de desconhecidos grotescos e assustadores, o quão
gostosas são e, ainda, quais as peripécias sexuais que eles poderiam realizar
com seus corpos, independentemente de consentimento.[/ironia]
Nós, mulheres, passamos por isso
corriqueiramente e o ato não depende do quanto nos aproximamos do padrão de
beleza vigente, eu diria que isto determina apenas a frequencia. Para ser
assediada basta ser "fêmea". E, ao contrário do fato acima ser senso
quase-comum, na grande maioria dos casos, estas selvagerias não “aumentam a autoestima”.
Imaginá esto todos los días desde que tenés 12 años.
Imaginá esto todos los días!
Sem ao menos desejar ouvir.
Sem ao menos dar a liberdade ao
sujeito.
Sem ao menos poder revidar ou
fazer calar.
Entende-se por assédio sexual
qualquer tipo de coerção de caráter sexual praticada (geralmente) por uma
pessoa em posição hierárquica superior em relação a um subordinado. “Lei
nº. 10.224/01 - Assédio sexual: Art. 216-A. Constranger alguém com o
intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função”. Caracteriza-se por alguma ameaça, insinuação de
ameaça ou hostilidade contra o subordinado.
Tendo isso em vista, o assédio
sexual e/ou verbal é abuso de poder. Mas, não acredito que essa violência
esteja restrita apenas ao ambiente de trabalho, como explicitado na Lei. A
desigualdade entre homens e mulheres não passa de uma grande, socialmente
construída e perpetuada relação de poder, na qual as mulheres são as
subordinadas.
Andarilhando pela blogosfera
feminista esbarrei numa situação bacana. Um homem perguntava para um blog se ao dizer “‘gostosa’, ‘te como toda’ e etc” (sic) estaria ele sendo
grosseiro, vulgar, ou, cometendo um assédio sexual. Ele ainda citou a restrição
do assédio apenas ao ambiente de trabalho e a foto amplamente divulgada nas
redes socias ultimamente - Assédio sexual não é elogio. Em resposta, a
blogueira expressou o meu sentimento, e certamente de muitas outras mulheres,
ao deixar claro que quando tais frases vêm de homens desconhecidos, a única
reação é sentir-se ameaçada. Agora, esse tipo de fala em um contexto de relação
amistosa ou amorosa são outros quinhentos, meu bem.
Exemplo de Ação Direta contra o assédio verbal. |
Outra obra bacana, ainda que expressando uma triste realidade, é o Femme
de la Rue, documentário de Sofie Peeters que, com uma câmera escondida,
registrou o assédio sexual e os insultos que sofria enquanto caminhava pelas
ruas de Bruxelas. Na França e na Bélgica o ‘street harassment’ (assédio
de rua) já é considerado ilegal, mas temo eu que a pena pecuniária não é muito
eficaz contra o machismo impregnado em nossa sociedade. Por fim, da Inglaterra
surgiu a organização Stop
Sreet Harrassment que, na minha opinião, é o mais consistente movimento de
resistência contra o assédio de rua - Page no Facebook.
Street harassment é qualquer ação ou comentário entre estranhos em locais públicos, que é desrespeitoso, indesejável, ameaçador e/ou assédio motivados por relações de gênero.
Pare, respeite, nos deixem caminhar em paz. Esperamos e lutamos pelo dia em que
ao sair na rua nossos ouvidos sejam recepcionados com muitos bom dia(s).
Adorei o texto Andressa e também o curta. Sentir na pele é a única maneira de alguém entender quando esta ofendendo alguém, seja por machismo, racismo ou qualquer outro ismo que nos cause opressão.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente artigo! Bjs
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