terça-feira, 29 de janeiro de 2013

E daí? Eu também sou travesti!

Este post faz parte da blogagem coletiva da Semana da Visibilidade Trans.

Bandeira do Orgulho Trans -
Segundo sua autora: "Azul para meninos, rosa para meninas,
branco para quem está em transição e para quem não se sente
pertencente a qualquer gênero. Simboliza que não
importa a direção do seu vôo, ele sempre estará correto!"
Hoje, dia 29 de janeiro, é o Dia Nacional da Visibilidade Trans, que foi instituído em 2004, sendo resultado das reivindicações do movimento trans. Mas o que é trans? Este tema já foi abordado habilmente pela chata Andressa . Mas vamos retomar brevemente alguns conceitos básicos. 

Já sabemos que o gênero é socialmente construído e que portanto ser mulher no Brasil é diferente de ser mulher na China, pois sua expressão é diferente, assim como seus papéis sociais; E que orientação sexual se refere ao direcionamento do interesse afetivo-sexual a uma pessoa que pode ser do gênero oposto, do mesmo gênero ou de ambos, configurando orientações sexuais heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, respectivamente. Trans é um conceito guarda chuva, que engloba tudo aquilo que não se enquadra no alinhamento entre sexo biológico e gênero; ou seja, uma pessoa é cis quando nasce com um pênis e ele se identifica com o gênero masculino ou quando ela nasce com uma vulva/vagina e se identifica como mulher . Mulheres e homens trans podem ser heterossexuais, homossexuais ou bissexuais, ou seja, a sexualidade independente do gênero com o qual elxs se identificam.


Símbolo Trans
Se hoje a homossexualidade já não é considerada uma doença, as pessoas trans ainda sofrem pela patologização da sua condição. Isto é, o discurso médico, que não é neutro, considera a transexualidade um desvio psíquico que precisa ser tratado e que, no limite, sua “cura” se daria com a cirurgia de adequação genital, a transgenitalização. Nem todas as pessoas trans desejam fazer esta cirurgia por motivos diversos, mas todas elas querem ser reconhecidas pelo gênero com a qual se identificam, daí a importância do nome social em todos os espaços e do livre acesso aos banheiros, por exemplo. Negar isso a elas é transfobia, a mesma responsável pela morte de 128 trans no Brasil no ano de 2012, segundo o relatório do Grupo Gay da Bahia. Número que é subestimado, já que os dados desse tipo de crime de ódio depende da denuncia de ONGs e das notícias, mas quantos casos não viram notícia?  A população trans, em especial as travestis, vivem à margem da sociedade, tem um alta evasão escolar devido a todas dificuldades institucionais em lidar com diversidade sexual e são desde cedo levadas a acreditar que não há outra perspectiva de futuro, senão na prostituição.

Dentro deste cenário, é com felicidade que ano passado vimos a primeira travesti conquistar o título de doutora pela Universidade Federal do Ceará. Luma Andrade é, não só  um exemplo para milhares de jovens que diariamente sofrem bullying, mas também representa fôlego e esperança para mais conquistas do movimentos trans.

Para quem quiser pensar mais sobre o assunto, indico as entrevistas com Laerte (a grande maioria disponível no Youtube), pois ele além de representar uma transgressão a cisnormatividade, faz um bom debate sobre gênero e sexualidade. Também recomendo fortemente alguns filmes/documentários com diferentes abordagens:

Amanda (esq.) e Monick (dir.): Os depoimentos
surpreendem e emocionam
Amanda e Monick (2008) é um curto documentário brasileiro sobre duas travestis de Barra de São Miguel (Cariri da Paraíba) que narra um pouco de suas trajetórias, falando sobre família, religião, preconceito e amor.
http://www.youtube.com/watch?v=LqzEAai25cE





Da esq. para dir: Chaz e sua mãe Cher
Becoming Chaz (2011): documentário sobre o filho da diva gay Cher, que era a princesinha da mamãe, Chastity, mas nunca se sentiu confortável em seu próprio corpo e aos 40 anos começou o processo transexualizador. É interessante pois mostra como é parte desse processo de transição mulher para homem (FtM - female to male), que menos conhecido que o MtF (male to female). Além de mostrar a dificuldade da própria Cher em lidar com essa situação. 
Aparentemente tem inteiro no Youtube somente com legendas em inglês; aqui está a primeira parte: http://www.youtube.com/watch?v=YmSSrlWoeVs.

Minha Vida em Cor de Rosa (1997) é um filme muito delicado que conta a história de Ludovic, um garoto que acabou de se mudar sua família para o subúrbio de Paris, e que não entende porque não pode usar “roupas de menina”, uma vez que se sente como uma. Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=D5IEZFA4Pzs

Tomboy (2011) outro filme francês muito tocante que lembra o Minha Vida... por tratar de uma garota, Laura, que também acabou de se mudar com sua família e sua primeira amizade na vizinhança já a confunde com um garoto. Ela não faz questão de desmentir e conta com a cumplicidade de sua irmã mais nova para sustentar a história aos longo das tardes de brincadeiras. Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=QYMydyLCTpw

Poster do fime Transamérica
Transamérica (2004): para quem ainda não viu, o filme é sobre uma transexual que está prestes a fazer sua cirurgia de adequação de sexo e descobre que tem um filho adolescente.  Disponível completo no Youtube com legendas: http://www.youtube.com/watch?v=uK4vyg3j2tM

Quem quiser se aprofundar um pouquinho mais no debate, fica esta leitura: "Orientações sobre a população transgênero : conceitos e termos" da Jaqueline Gomes de Jesus, que é doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília – UnB e pesquisadora do Laboratório de Trabalho, Diversidade e Identidade – LTDI/UnB

2 comentários:

  1. Jussara,
    gostei muito do seu texto, só vou chatear com uma coisa: "gênero oposto"? Mas a gente não está justamente defendendo que gênero é uma performance, que não há preto ou branco e sim uma escala de cinza? Então meu gênero se opõe a qual expressão?
    Beijocas

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    Respostas
    1. Maria, obrigada por chatear, afinal, esse blog é pra isso mesmo (:
      De fato, você tem razão. Na ânsia de me fazer entender acabei optando por essa expressão, mas vamos trabalhando nisso!

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