terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Por que sou feminista?


Por que eu sou feminista? Porque eu tenho uma vagina. Porque tenho um coração pulsante e um cérebro pensante. Porque tenho 46 cromossomos e um mínimo de humanidade que os acompanha. Porque adoro usar roupa colada, shorts curtos, cabelos coloridos. Adoro andar sozinha pela rua, pensar na vida. Mas tenho medo. Por isso sou feminista. Porque acordo todos os dias e vejo coisas que me incomodam. Porque o que eu não vejo incomoda ainda mais. Porque a dor silenciosa de pessoas envergonhadas me sufoca. Porque cada vez que vejo uma estatística sou incapaz de ler números e não seres humanos.
 
Porque feminismo não é sobre feminilidade, é sobre humanidade. Sou feminista porque tenho vontade de apresentar minha amiga e a namorada dela pras pessoas e não receber olhares arregalados em troca, nem comentários sobre como ela é “feminina demais para ser gay”. Sou feminista porque quero ouvir de um rapaz de 20 anos que ele é virgem por opção sem eu mesma olhá-lo com um olhar arregalado. Sou feminista porque quero ir pra uma balada gay com meus amigos sem ter a minha sexualidade questionada por isso. Porque quero falar da minha carreira dos sonhos para alguém sem ouvir que é coisa de homem, e falar que quero me casar de branco, ser mãe e esposa sem ouvir que sou submissa. Sou feminista porque não tenho a menor vergonha de ser mulher, de ser diferente ou ser igual.

Sou feminista porque sinto dor, sinto medo ao observar o mundo que me rodeia. Quero decidir sobre o meu corpo. Com quem transar ou não transar, abortar ou não abortar, ser freira, ser prostituta, casar virgem ou experimentar. Por ou não silicone, fazer ou não tatuagem, pintar ou não o cabelo, ser mocinha ou ser moleca. Sou feminista porque quero me sentir segura para gritar minha individualidade, sabendo que não estou sozinha, somos um grupo. Porque não quero ter medo de entrar em um ônibus lotado. Sou feminista porque eu sei que a violência contra as mulheres e homossexuais é contada a muitos zeros, e que todas essas vítimas, sobreviventes, estão aí fora precisando de conforto, de justiça. E que justamente por serem tantas não podem se calar.  Porque não quero ser culpada pelas agressões que sofro diariamente, nem quero que ninguém seja. Sou feminista pois não quero que pessoas se joguem de prédios ou sejam jogadas de trens em movimento para que possamos apontar dedos, indicar culpados e pensar em quão danoso é o silêncio.

Sou feminista porque quero viver num mundo em que não sejamos ensinados a ser homens ou mulheres. E que uma vez que aprendamos possamos fazer disso o que quisermos. Para que possa ter uma filha engenheira ou um filho professor primário. Que possa ter uma filha que goste de garotas ou um filho que na verdade seja filha. Sou feminista porque estou farta de viver numa sociedade onde uma mulher que gosta de crianças desperta encanto enquanto um homem que gosta de crianças desperta desconfiança. Porque quero viver numa sociedade onde todos possam ter seus instintos “maternais”. Sou feminista porque eu sei que feminismo não é um movimento pelas mulheres, é um movimento pelos seres humanos. Porque o machismo faz de vítimas todos nós. Sou feminista porque esse foi o jeito que encontrei de tirar da garganta esse grito sufocado por IGUALDADE.

Sou feminista porque não me conformo. Porque quero viver em um mundo melhor, onde nem tudo seja cor-de-rosa, mas seja rosa também. Ou azul. Ou tão colorido quanto o arco-íris. Quero que as palavras que eu uso não sejam sempre interpretadas como mostras do meu caráter, afinal, mocinha também fala palavrão, mocinha também é chata, mocinha também diz não. Sou feminista porque “não é não”. Porque quero que um dia não seja preciso chocar para sensibilizar. Sou feminista porque quero, um dia, viver num mundo com menos ismos. Sou feminista porque tenho amor próprio. Sou feminista porque sou humana.




4 comentários: